terça-feira, 19 de junho de 2007

DVD aguça sentidos e ativa o debate sobre pirataria

Na linha evolutiva, o DVD é considerado a mídia que mais explorou os sentidos dos seres humanos. Pirataria é vista como conseqüência inevitável.


Ouvir música hoje não é mais suficiente, é preciso vê-la. Som e imagem não é uma associação nova, acredita-se que os gregos já montavam os primeiros cenários musicais, dando cor à música. O DVD hoje representa uma espécie de “cenário grego virtual” e passou a ser a mídia essencial para a promoção dos novos artistas.


A partir da década de 50, com o surgimento do Long Play (LP), o que parecia ser mais importante para artistas e público era a prática de registrar, produzir e reproduzir. Com ele, a emoção era transmitida unicamente pelo som. Na década de 60, surge a fita cassete, mais compacta, porém com a dificuldade de se colocar a música no ponto desejado. Em 1980, surgem os CDs, com maior durabilidade e clareza sonora, marcando a era do registro digital.


Para o professor de Infografia da UCG, Fábio Lima, essa evolução pode ser definida como uma tendência de minimizar os arquivos e os equipamentos que os executam. Prova dessa definição pode ser vista diariamente nos ouvidos das pessoas, quando circulamos pelas grandes cidades: os aparelhos MP3 e os MP4. “Na verdade MP3 e MP4 são as extensões dos arquivos. São os nomes dos tipos de compressão de áudio mais modernos”, explica Rogério Guimarães, estudante de Engenharia da Computação. Ele conta que houve uma difusão popular do nome dos arquivos e os equipamentos passaram a receber esses nomes.


Rogério explica ainda que o mesmo aconteceu com o DVD (Digital Versatile Disc). A sigla também se refere a um formato e a característica dessa mídia basicamente é a junção das informações de áudio e de vídeo e a capacidade de “pular” faixas (tecnologia push-pull),o que não era possível com o VHS, semelhante à fita cassete, mas com capacidade de armazenar imagens e sons.



Sentidos


Werner Aguiar, músico e professor da Universidade Federal de Goiás, acredita que cada evolução dos formatos coloca uma possibilidade de reprodução e divulgação completamente diferente da anterior. “Essa idéia de poder circular e divulgar a obra é a revolução da música, só pode ser comparada à Imprensa”, lembra. Para ele, o momento é único, não precisamos mais de um meio físico para distribuir a música, já que os formatos digitais permitem a livre troca e o livre tráfego na internet.


O músico vê apenas o lado benéfico da chamada “explosão de DVDs” que a sociedade tem acompanhado nos últimos anos. Ele dá boas-vindas a todo tipo de tecnologia e não aprova visões “puristas” de determinados compositores que defendem a teoria de que a música é somente para ser ouvida. “Eu estou inserido em um mundo de imagens. Devo me relacionar com ele da melhor maneira possível. Werner concorda que alguns artistas utilizam o recurso para se autopromoverem, mas prefere enfatizar o lado positivo ao afirmar que a produção de DVDs “mexe com o potencial criativo dos músicos”, pois agora eles trabalharão com os dois sentidos.


O professor Fábio Lima analisa que o lado negativo dessa difusão de imagens é a perda da capacidade de interpretação. “Quando ouvimos uma música, criamos uma imagem própria da obra. Os video-clipes, os DVDs de shows, já nos passam uma imagem pronta”, explica. É como se nossa imaginação fosse freada e limitada, e a incrível capacidade que nosso cérebro tem de criar imagens, fosse descartada.



Pirataria


“Os primeiros a piratear podem ser os editores e produtores, já que as cópias não são numeradas. Não há controle”, analisa Werner Aguiar. De acordo com o professor universitário, é muito difícil proibir a cópia ilegal de obras musicais porque os novos formatos facilitam essa reprodução e proliferação dos arquivos de áudio e vídeo pelo mundo, principalmente pela internet.


A pirataria é vista pelo músico como o equilíbrio da cadeia produtiva que é formada basicamente pelo autor da obra, a indústria fonográfica e o consumidor. Nesse equilíbrio, o músico se posicionaria no lugar certo: em um lugar onde ele não é considerado mais importante que a obra e nem a obra considerada propriedade do artista. Para ele, a arte é de todos.


Anselmo Troncoso, produtor de DVD’s conta que a pirataria existe porque as pessoas de baixa renda querem consumir, mas o valor do produto é muito caro. “O DVD da Ivete Sangalo custou 6 milhões. Para o artista tirar o lucro é preciso vender por mais de 40 reais”, exemplifica. Ele lembra que existem sistemas de segurança que dificultam a cópia de mídia, mas considera uma medida insuficiente. Para o produtor, muitos empresários hoje fazem questão da pirataria porque para eles, quanto mais o produto estiver no mercado, melhor é para o artista. “As bandas não ganham dinheiro com o DVD, ganham dinheiro com os shows”.



Sentindo na pele


Essa fusão de áudio e vídeo está se tornando cada vez mais comum na vida dos artistas. No estado de Goiás essa realidade não é diferente. Em 2005 a banda Qwert inaugurou o cenário de gravação de DVD na capital goiana. "Na realidade foram dois lançamentos de uma só vez, a banda nasceu com a gravação do DVD", relata Haroldo Menezes, 35, vocalista. Haroldo acredita que esse projeto foi o ponto de partida para muitas conquistas, além de vários shows o grupo teve a oportunidade de fazer a parceria com o projeto “Executiva no Bar”, mostrando o trabalho para os bares de Goiás.


Depois do Qwert foi a vez da banda Nechivele subir no palco para gravar seu primeiro DVD. O grupo já tinha 7 anos de carreira, mas ainda não era reconhecido. O sucesso explodiu com a apresentação do DVD para todo o Brasil. "O DVD não foi um projeto, foi uma necessidade, é a prova real do nosso trabalho", define Eduardo Melo, 29, vocalista da banda. Com esse projeto a banda viajou por várias partes da nossa nação, apresentando seu trabalho. Hoje estão preparando o segundo DVD. "Esse DVD promete, a banda cresceu muito, quem gostou do primeiro vai se encantar com o segundo" garante Gláucio Toledo, 36, empresário da banda.


A gravação do segundo DVD do Nechivile está marcada para Agosto de 2007. O investimento para este trabalho será 500% maior que o valor gasto no primeiro DVD. É a prova viva do lucro que a banda obteve com o primeiro. Definir esse trabalho audiovisual de uma única palavra, não é uma tarefa fácil, mas os vocalistas arriscam. Para Eduardo, “vitrine”, Léo define como "essencial" e Junior encara como "sucesso".


Reportagem: Fernanda Castellotti e Juliana Porto
Edição: Érica Leal, Flávia Rocha e Tainara Negreiro

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